Por uma nova bandeira de Portugal
A nossa bandeira actual é feiita. Pronto, já disse.
E não me acredito que nenhum português, por mais «ai que nos nossos símbolos não se mexe», nunca tenha pensado isso mesmo pelo menos uma vez na vida.
O outro problema é que a bandeira tem dois erros de vexilologia: a esfera armilar e as cores.
A esfera armilar
A esfera armilar como está representada na bandeira é uma grosseira transposição para duas dimensões daquela esfera.
A nível comunicativo é incompreensível para o resto do mundo que vê ali uma espécie de roda com os raios todos tortos. Tem o mesmo efeito que aquelas bandeiras cheias de tralha, como rodas dentadas, instrumentos agrícolas e catanas.
Mas mais grave que isso é que a esfera armilar era o símbolo da bandeira do Principado do Brasil, enquanto que o escudo português sobre a esfera armilar representava o Reino Unido de Portugal, do Brasil e dos Algarves.
Ora, Portugal e Brasil não são nenhum Reino nem muito menos Unido.
As cores
Heráldica
Ah, o verde e o vermelho. Um mito diz que o verde significa a esperança (desde quando o verde significa esperança?) e o vermelho o sangue derramado pelos portugueses.
Na verdade, aquelas cores foram uma imposição das cores do Partido Republicano à identidade dum país, e aquela explicação veio ad hoc. O vermelho é, na verdade, o socialismo e a carbonária dos radicais republicanos.
About the symbolism, it’s a fairy tale. The green and red where adopted by the republicans without this symbolism (rather from masonic-carbonarian connections), which was added later to give the flag more “dignity”. It’s a typical case of symbolism emerging from the design. — Jorge Candeias, 27 Nov 1998
Na heráldica diz-se também que é um erro misturar-se duas cores esmalte, como são o verde e o vermelho.
Outro problema é a questão heráldica: nas regras da heráldica, o verde e o vermelho são dois esmaltes, e como tal nunca deviam entrar em contacto um com o outro (a heráldica permite apenas a justaposição de esmaltes e metais — ou seja, das demais cores com o branco/prata e o amarelo/ouro). Sendo assim, muitos estudiosos da heráldica consideram a bandeira portuguesa (…) como “erros heráldicos”. — Arquivo Wikipedia (secção entretanto removida da Wikipedia)
Grafismo
Os artistas e designers gráficos sabem explicar isso doutra forma:
Red and Green should not be seen
Mas não é preciso ter formação nenhuma em arte para explicar que o verde e o vermelho não ligam. Vê-se.
Por isso é que designers profissionais que desenham os equipamentos da selecção portuguesa optam não pelo vermelho e verde, mas por um bordeaux e verde — que não são as cores da nossa bandeira, mas evitam que duas cores incompatíveis coexistam.
A minha proposta
Coloque de parte os seus preconceitos por uns momentos, e considere esta bandeira:
Na verdade, ao contrário do que o título desta página possa indicar, não é uma bandeira nova. Considero-a a restauração do espírito histórico da nossa bandeira.
Descrição
Bandeira na proporção de 2:3. As cores da bandeira do liberalismo, separadas na razão da proporção áurea. A altura do escudo português é metade da altura da bandeira.
O azul e o branco não são apenas as cores da nossa identidade desde D. Afonso Henriques. O azul e o branco são também as cores da calçada portuguesa, do azulejo português e de muita da arquitectura típica portuguesa.
Ao retirar a esfera armilar, o escudo português pode então tomar toda a altura ocupada pela esfera armilar, e ganhar assim mais visibilidade, mais dignidade, e ser melhor apreciado no seu detalhe e na sua qualidade estética.
Finalmente, a proporção da divisão de cores deixaria de ser dividida em 2/5, razão que revela uma escolha arbitrária de quem conhecia matematicamente os valores. Passariam as cores a ser separadas no eixo da razão de ouro, ou proporção áurea, de 1,618:1. Essa é proporção é tida como esteticamente mais elevada proporcionando um resultado muito harmonioso à composição final da bandeira.
O futuro
Espero que esta proposta agrade a monárquicos e republicanos. Sendo portuguesa, é absolutamente neutra de carga política, como deve ser uma bandeira nacional.
Passado um centenário da instauração da República, porque não referendar-se este símbolo? É que é um símbolo que, por ser de todos, não deveria ter-nos sido pintado de outras cores que não as nossas em 1910. E quem não acredita que os símbolos não devem ser tocados, deve recordar-se que o foram naquela data.
Nunca é tarde para mudar. Restaurar a nossa bandeira é mudar para melhor.